Viver no México, Amor ou Ódio?








Em uma semana vou fazer 9 anos vivendo em solo mexicano. Ao longo desses anos eu vejo como cresci, amadureci, evoluí como ser humano. Ontem conversava com uma amiga querida sobre Inteligência Emocional, meu ponto de vista é que ninguém aprende a desenvolver IE com inspirações teóricas, mas sim, com os tombos da vida.

Olhando meu “eu” de 9 anos atrás sinto vergonha de muitas coisas, e isso acontece frequentemente quando conheço novos brasileiros que chegam, cada dia mais, para viver no México. Me reconheço na intolerância, na ignorância aos costumes, no choque cultural que vivi e não sabia que vivia, em diversos aspectos da cultura local.



Para citar alguns erros muito comuns, que vivemos quando chegamos no México, não apenas os brasileiros, mas qualquer estrangeiro que venha de uma cultura diferente:







1) Comida:

Eu confesso, que diferente da Melissa e algumas poucas amigas que se apaixonaram instantaneamente pela tortilla de maiz, guisados e salsas picantes, eu fui muito resistente. Ainda cozinho a la brasileira, mas já tenho inúmeros itens mexicanos na minha casa e pouco a pouco aprendi que se uma enchilada não é boa, não significa que todas enchiladas são ruins. Assim como não é qualquer feijoada que como, não é qualquer pozzole que me faz suspirar, sou chata para comida e isso fala mais sobre mim do que sobre a culinária mexicana. Por muito tempo eu achei que comida mexicana era só tortilla, carnes, picante. Tudo era variação do mesmo tema. Hoje me dou conta que meu paladar era ignorante, há uma extensa variedade e nuances que eu não conseguia distinguir e hoje aprendi a apreciar. Para isso tem que sair da sua zona de conforto, arriscar mais de uma vez e se abrir ao novo.


     
     
2)      Mexicano é...

Quem me conhece sabe que uma coisa que DETESTO são estereótipos. Já fui rude muitas vezes, irritada com as perguntas se eu sambava, pulava carnaval, etc. Até que me dei conta que também estabelecias estereótipos aos mexicanos. Sobre forma de se vestirem, conduta, hábitos. Temos mexicanos bonitos e feios, que se vestem bem ou mal, que usam ou não usam gel, pontuais ou não, que dirigem bem ou não, assim como brasileiros. Afinal se compararmos de Norte a Sul do Brasil temos inúmeras características regionais em relação a aparência, comportamento, habilidades, totalmente diferentes, e pegar uma pequena amostra, da bolha que você vive e definir todo mexicano segundo esse conceito é no mínimo ingenuidade e pouco conhecimento do gênero humano. Outro ponto interessante a destacar, é a lei de ação e reação. Ao conhecer a cultura e hábitos locais e mudar sua forma de tratamento, quando você aprende a usar “Buenos días, salud, provecho, que le vaya bien, tenga um bonito día” vai mudar totalmente a interação. Dependendo da região onde viva no México, a forma direta e muitas vezes imperativa que usamos, em e-mails, conversas, solicitações, é considerada rude e grosseira. Diminuir o ritmo, desacelerar, saludar, sorrir é um processo, uma aprendizagem, e a longo prazo garanto que te fará se sentir melhor consigo mesmo. Não muito diferente da percepção de muitas regiões do Brasil em relação aos paulistas (estressados como eu).





    
    3)      Brasil é.. México é..

Vivi em 3 estados, 5 municípios, 9 casas no México, passei por inúmeros médicos, vivi experiências diversas com saúde, algumas graves. Meus filhos estudaram em 4 escolas. Foram experiências diferentes, tive senhorios maravilhosos e terríveis, participei de comunidades escolares (pais, mestres, métodos) fantásticas e tive experiências péssimas. Vivi em lugares com padrões, estilos, clima e preços muito diferentes entre si. Me lembro bem que a primeira vez que me mostraram casas em Cuajimalpa achei o lugar horrível, casas velhas, com um estilo colonial antigo, vendedores ambulantes em toda parte, caminhões enormes exigindo espaço em ruazinhas minúsculas de duplo sentido. Esse Pueblo está justamente entre 2 lugares ultra modernos, cheios de edifícios novos, estilosos, que são Santa Fé e Interlomas. Anos depois me mudei para Atizapan que era um município com bairros “normais” semelhantes com o que tenho de referência de grandes municípios brasileiros. Hoje vivendo em Guadalajara vejo regiões que parecem subúrbios americanos. 

Se saímos da nossa redoma e buscamos um pouquinho além veremos que há de tudo, bom e ruim, da mesma forma que no Brasil. Dizer que as escolas são quadradas porque conheceu uma escola católica antiquada, que os senhorios são avarentos, que a vizinhança é barulhenta, é falar sobre uma experiência apenas. Tem de tudo. Tem muitos condomínios que não pode entrar Mariachi ou fazer festa depois das 9pm ou fins de semana. Tem escola de tudo que é estilo, e a que mais gostei era uma escola nada recomendada pela comunidade brasileira porque não tinha “grife”.  Por isso mesmo que sempre digo: pesquise! Não é todo mundo que se encaixa no padrão expatriado, ou que pode pagar por esse estilo de vida, e nem por isso tem que viver mal.




Ao longo desses anos conheci muitos estrangeiros que vieram para cá. Cada um deles viu um México diferente, alguns acham a comida maravilhosa outros a detestam, o mesmo para outros aspectos da cultura, ou qualquer outra experiência. Eu já fui muito diferente do que sou hoje. Aprendi a apreciar, amar, aceitar muitas coisas que não faziam sentido no começo. Por isso quando vejo recém-chegados vivendo o choque cultural, julgando, assumindo verdades absolutas, tento ajudar, explicar, mostrar outros pontos de vista. Alguns ouvem, entendem e algum dia irão vivenciar a transição, outros se fecham, frustrados e provavelmente viverão seus anos em outro país a sombra da vida que tiveram um dia, e muitos ao regressar se surpreendem ao ver que a perspectiva romanceada em relação ao nosso Brasil não corresponde à realidade que enfrentam ao chegar. 


E você? Como vê a experiência de viver no México?


Escrito por:







Fabiana Giannotti, brasileira radicada no México desde 2008.. Blogueira, Escritora, Fotografa, Assessora a expatriados. Me considero afortunada por viver no México, aprender a respeitar e conhecer essa bela cultura. Conhecer, adaptar-se, aprender, mudar, acostumar, respeitar, amar o diferente são algumas coisas que descobri nos últimos anos, além do fato que, por mais perfeito que seja o plano tudo pode mudar de repente...

E-book, livro digital – Venda direta: fabiana.giannotti@yahoo.com.br




Serviço Personalizado de Assessoria para mudança ao México




Share:

5 comentários

  1. Amei. <3
    Quero muito conhecer o México, espero um dia conseguir realizar esse sonho.
    Não conhecia seu blog, achei muito legal, vou ficar acompanhando.
    Obrigada por dividir sua experiencia, :)
    Tudo de bom. Beijos

    ResponderExcluir
  2. Oi pessoal. Vivi durante um semestre no México e posso dizer que foi uma experiência fantástica. Se eu fosse comparar com base nas situações que vivi com algumas pessoas e acontecimentos, eu teria detestado. Mas exatamente como a postagem disse - e amei por sinal - cada pessoa tem sua perspectiva e não podemos saber se é bom ou ruim a partir de uma experiência apenas. Amo o México <3 Adoro esse blog. bjs

    ResponderExcluir
  3. Adorei o relato. Sempre fui apaixonada pelo México e pude conhecer o país, ou melhor, umas 10 cidades de 4 estados diferentes, em 2018. Me encantei por muitas coisas mas os tacos não me conquistaram. Sigo alguns brasileiros que moram no Mx e a maioria (paulistas), ama tacos. Aí, eu como uma nordestina filha de uma 'cozinheira de mão cheia', já julgava os paulistas por amarem tacos kkkk sim, muito PRÉconceituoso da minha parte. Acho que esse texto serve de reflexão não só para quem vai morar fora mas também para quem anda pelo Brasil que, como já vi escrito aqui na internet, tem vários países dentro dele.

    ResponderExcluir