Amigos Verdadeiros - DIAMANTES ou PEDAÇOS DE VIDRO?
Uma coisa
que sempre me comoveu nas crianças pequenas é a facilidade com que fazem
amigos. Não existem preconceitos, julgamentos, medo. Um sorriso, um brinquedo dividido
e são “amigos”. A medida que crescemos nos tornamos mais seletivos. Até porque,
descobrimos que amigo é mais do que passar um tempo agradável juntos. Como uma
amiga querida me disse uma vez, amigo leva tempo, existem vários níveis que
vamos conquistando na construção de uma amizade verdadeira.
Até o
inicio da vida adulta é mais fácil desenvolver amigos. Temos mais tempo, mais
fé, menos bagagem. É muito comum descobrirmos amigos de verdade em situações dramáticas
que colocam nossa vida em perspectiva e nos fazem ver quem está do nosso lado.
Essas situações são apresentadas quando passamos por grandes dificuldades ou
grandes alegrias, nessas horas, são poucas as pessoas que queremos realmente do
nosso lado, para dividir a dor ou a alegria. Algumas amizades são simplesmente construídas,
como tijolinhos, pouco a pouco, e quando vemos temos uma fortaleza
compartilhada com uma pessoa especial, que testemunha nossa jornada nesse mundo,
outras se desenvolvem em pouco tempo, como um maravilhoso encontro de almas,
mas ainda assim leva seu tempo.
Quando saímos
do Brasil, sentimos falta da família, da nossa rede de apoio e dos amigos. Como
fazem falta, como nos sentimos solitários e órfãos, no começo de uma vida fora.
Não é que seja difícil fazer amizade com mexicanos, entendam, eles são muito amáveis
e tenho amigos maravilhosos mexicanos, mas via de regra, poucos compreendem tão
bem a extensão da nossa solidão, e a maioria tem sua vida, afazeres, amigos de
toda uma vida, família...
Quem já
viveu sabe, que nos primeiros tempos aqui, escutamos alguém falando português,
nosso coração dispara, queremos conversar com alguém que entende o que vivemos.
E somos como criancinhas pequenas de novo, cheios de fé. E não tem nenhum
problema nisso, exceto que muitos confundem uma ampla rede social de
expatriados com amizades verdadeiras. Especialmente se encontram um grupo
animado, que se reúne para churrascos, batucadas, jogo da copa do mundo, etc.
Nesses eventos podemos reclamar dos problemas locais (geralmente comuns e
compreendidos por todos), beber, dançar, ficar à vontade, falar português,
trocar experiências.
Acreditamos
que por termos tantas coisas em comum, encontramos amigos, pulamos etapas. Mas não
é assim. Como o diálogo da raposa e Pequeno Príncipe:
Uma amizade
verdadeira exige cativar e ser cativado, significa serem realmente especiais
uns para os outros. Nesses 10 anos já convivi com muitos grupos de brasileiros,
alguns bastante divertidos e chegamos a acreditar que fizemos algumas amizades,
mas nas primeiras tormentas da vida, quando não estamos de humor para festa,
pachanga, folia, por qualquer razão da natureza humana, deixamos de ser
interessantes e nos damos conta que “estamos em um jardim com milhares de rosas,
mas que nenhuma é realmente especial e somos como qualquer outra rosa nesse
jardim.”
Com o tempo,
amadurecimento, adaptação, ouvir um brasileiro não me fazia palpitar o coração.
Fui me tornando mais seletiva, por que não dizer, mais chata. Me dei conta que
partilhar o mesmo idioma, trilhar o mesmo caminho, não faz nenhuma diferença real
na essência de cada um, que é o que realmente importa em fazer um amigo.
Após algumas
desilusões com amizades anteriores, quando soube que iria me mudar de novo em 2016, fiquei bem triste de ir para tão longe. Era outro recomeço, e Deus sabe que os poucos amigos que tinha no DF iriam me fazer falta, e para ser sincera estava cansada de começar do zero. A
mudança arrumamos em alguns dias, o google maps nos ensina a encontrar e chegar
aos novos lugares, em pouco tempo descobrimos serviços essenciais..., mas
começar do zero toda a estrutura social, construir pouco a pouco os tijolinhos
de novas amizades, isso sim me deu uma profunda tristeza.
Por isso tive uma
conversa séria com o Cara lá de cima, antes de vir para Guadalajara. E Ele me
escutou e deu uma forcinha. Em pouco tempo pessoas especiais entraram na minha
vida e foram ficando. Conheço uma galera enorme aqui, sigo dando dicas com o
blog e chats, mas principalmente, tenho uma vila, com novas construções que vão
crescendo a cada dia. Se serão amizades eternas, não sei, mas sei que dessa vez
não cai na ingenuidade de fazer amizades por razões superficiais, como costumava
acontecer, mas abri a porta para pessoas com valores e afinidades reais.
Para quem
está chegando, é super normal essa ansiedade, mas sugiro que sejam cuidadosos.
Muitas pessoas abrem o coração, a alma, porque estão vulneráveis, sozinhos, carentes,
sem cuidado e precaução. Busquem amigos, pelos mesmos critérios que sempre teve
no passado, compreenda que amizades verdadeiras se importam com você, mesmo
quando não está a fim de beber, de rir, quando está doente, com problemas,
triste. Mesmo que não concordem com sua forma de pensar, te respeitam e te apoiam, sao as mesmas pessoas que voce quer dividir suas maiores mazelas e alegrias, ainda que sejam apenas virtuais, como a Melissa Lima foi por vários meses na minha vida.
Pode ser que demore um pouquinho para isso acontecer, mas nao desanime. Meus primeiros amigos essenciais no México, são de uma época que a comunidade brasileira era minuscula, a 10 anos atrás, a grande maioria mexicana, e foram fundamentais para minha vida. Lembre-se de respeitar a sua essencia e manter a cabeça aberta, olhos atentos, e seus amigos verdadeiros vão entrar na sua vida, nao tente pular etapas, celebre cada uma delas.
E espero que cada um de vocês encontre sua panelinha. onde tenham um ambiente seguro e bons amigos para contar sempre!!
Escrito por:
Fabiana Giannotti, brasileira radicada no México desde 2008.. Blogueira, Escritora, Fotografa, Assessora a expatriados. Me considero afortunada por viver no México, aprender a respeitar e conhecer essa bela cultura. Conhecer, adaptar-se, aprender, mudar, acostumar, respeitar, amar o diferente são algumas coisas que descobri nos últimos anos, além do fato que, por mais perfeito que seja o plano tudo pode mudar de repente...
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