O
fato de o abacate ser um fruto considerado “doce” no Brasil e no México ser
usado abundantemente em pratos salgados geralmente causa estranheza nos
turistas que visitam ambos os países. Mas o abacate consumido no Brasil seria
outra espécie daquele apreciado pelos mexicanos, ou estamos lidando sempre com
o mesmo fruto, mas utilizado de forma distinta?
A
“guacamole”, iguaria que tem como ingrediente base o “avocado”, talvez seja uma
das comidas típicas mexicanas mais conhecidas pelos brasileiros. Creio eu que
antes de experimentá-la todos nós sentimos um pouco de curiosidade pelo fato de
ser um prato salgado e, aqui no Brasil, costumeiramente consumimos o fruto em
forma de vitaminas, sorvete, como sobremesa... enfim, sempre de uma forma doce.
Mas
afinal: o abacate brasileiro é a mesma fruta que o aguacate / avocado mexicano?
A resposta seria sim... e não!
Para
entender melhor essa questão, é imprescindível conhecer a história e origem do
abacate, uma fruta muito apreciada e que faz parte da dieta da maioria dos
países da América Latina.
História e origem do abacate
O nome
abacate vem do espanhol aguacate,
que por sua vez tem sua origem na palavra náhuati, do idioma náutatle
ou asteca, que literalmente quer dizer testículo. Os incas do Peru o chamavam
de palta ou palto e essa ainda é a denominação mais comum no
Peru, Argentina, Equador e no Chile, embora em outros países de língua
espanhola também seja chamado de aquaquate.
O termo “avocado” é geralmente usado nos países de língua inglesa,
independente de sua espécie.
Os
autores especializados divergem da origem da planta, mas é consenso comum que
ela é nativa na América Latina; todavia, acredita-se que o México seja o país mais
provável, visto que em seu território até hoje o fruto é encontrado em sua
forma selvagem.
As
primeiras referências ao abacateiro foram feitas pelos exploradores espanhóis
que desembarcaram na América, isto é, entre os anos de 1526 e 1554, através de
relatos que descreviam plantas encontradas na antiga Cidade do México e na
região onde hoje é a Colômbia. Alimento
básico consumido há milhares de anos pelos habitantes da região, o fruto ganhou
status de superstar e se espalhou
pelo mundo: sua presença é citada na Jamaica em 1657, em 1750 foi introduzido
na Indonésia, em 1833, na Flórida, na Austrália no final de 1800 e em 1908, em
Israel. Acredita-se que no Brasil o abacateiro foi introduzido em 1809, vindo
da Guiana Francesa.
Há
registros de que o abacate tenha chegado à Califórnia por volta dos anos 1850,
sendo que atualmente os pomares perto de San Diego, Los Angeles e Santa Barbara
produzem quase 90% da produção total da América: a espécie Hass (popularmente conhecida
como “avocado”) compõe a maioria da safra, apesar de pequenas propriedades
ainda cultivarem outros tipos. Já a Flórida foca sua produção em espécies de
frutos grandes, de pele lisa e carne doce, muito popular entre populações de
imigrantes caribenhos.
Características botânicas do abacate
Buscamos
a classificação científica do fruto e verificamos que o abacate é identificado
como Persea americana (que atualmente
engloba mais de 150 espécies):
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Laurales
Família: Lauraceae
Gênero: Persea
Espécie: Persea americana
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Laurales
Família: Lauraceae
Gênero: Persea
Espécie: Persea americana
O abacateiro
pode ser organizado em três grupos primários, subespécies ou raças distintas: Antilhana (P.
americana americana), de clima tropical e tolerante à salinidade;
Guatemalense (P. nubigena guatemalensis),
de clima subtropical e não tolera extremos de temperatura; e Mexicana (P. americana drymifolia), que tolera
melhor temperaturas mais baixas (inferiores à -6ºC). Esses grupos são
diferenciados principalmente pelo formato do fruto (que pode ser arredondado,
em forma de pêra ou ovalado), tamanho e quantidade de óleo presente no fruto e
sua origem. Todavia, essas raças são intercruzáveis e originaram as variedades
híbridas e modernas dos abacateiros, chamadas de grupo A e grupo B.
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Pois
bem. Diante dessa explicação podemos concluir que o abacate é um fruto que possui espécies e subespécies
diferentes, intercruzáveis e enxertáveis entre si, que originam frutos
híbridos. Portanto, levando em consideração a classificação das raças e
subespécies, aqueles que estamos acostumados a consumir de uma forma doce aqui
no Brasil geralmente não se tratam dos mesmos utilizados na culinária mexicana.
Espécies cultivadas no Brasil e no México
- Brasil
Na
cultura comercial do abacateiro, as espécies são classificadas em 1) tipo
exportação e 2) consumo interno. Na maioria dos países toda a safra serve para
os dois fins, mas no Brasil as variedades tipo exportação não são bem aceitas
no mercado interno, que prefere geralmente frutos grandes, que apresentam baixo
teor de óleo, e comumente são das raças antilhana ou guatemalense; dentre elas,
destacam-se a Fortuna e Quintal. Em relação à exportação, as variedades mais
cultivadas são a Fuerte e a Hass.
O abacate
MANTEIGA, que possui formato de pêra, possui polpa macia e sem fibras.
Destaca-se que especialmente as espécies FUKS e GEADA têm muita polpa e baixo
teor de gordura, por isso são bastante indicados para o preparo de cremes. Já o
MARGARIDA, por ter médio teor de óleo, poderá ser utilizado no preparo de
saladas. O FORTUNA, que possui a polpa adocicada e também médio teor de óleo, é
uma boa opção para ser consumido in
natura. A espécie BREDA, que possui médio teor de gordura, é o substituto
mais adequado do HASS (popularmente conhecido como “avocado” ou “abacate
mexicano”) para a preparação da guacamole. Por fim, o abacate QUINTAL é a
espécie cultivada no Brasil que possui a polpa mais doce; com teor médio de
óleo, é o mais apropriado para ser consumido in natura.
As
espécies brasileiras podem ser encontradas principalmente entre os meses de
janeiro a outubro, contudo algumas variedades como o Geada e o Breda também são
encontradas em novembro e dezembro.
- México
Foram encontradas evidências em Coxcatlán, Puebla, que
o cultivo do abacate vem desde 10.000 a.C. Destacamos que entre as décadas de
50, 60 e 70 do século XX as raças mais cultivadas no México foram Fuerte, Bacon,
Rincon, Zutano e Mexican, porém a partir dos anos 1980 iniciou-se o cultivo de
outras subespécies.
Desde o ano de 1963 o estado de Michoacan
estabeleceu-se como um forte produtor do fruto, com uma grande produção e
inserindo no mercado nacional as variedades Fuerte e Creole. Para se ter uma
ideia, em 1997 esse único estado alcançou a produção de 891,873 toneladas, o
que correspondeu a 77% da safra nacional do citado ano.
Todavia outros estados são produtores do fruto,
porém em cada um deles a produção é de uma espécie que se adapta à condição
climática e geográfica da região. Internamente, os mercados mais importantes de
abacate no México são os estados de Puebla,
Sinaloa, Coahuila, Nuevo León, Chiapas, México, Distrito Federal, Jalisco, Quintana
Roo y Guerrero, com um consumo percapita de cerca de 10 Kg.
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Anualmente
o México exporta apenas 5% de sua safra em razão do consumo interno ser
bastante grande e demandar frutos frescos, e, na Europa, há a competição de
mercado entre Espanha, África do Sul e Israel. Porém, nos últimos anos o
abacate mexicano ganhou o mercado norte americano, onde possui bastante
aceitação.
As
principais espécies de abacate cultivadas atualmente no México são: Bacon,
Criollo, Fuerte, Hass, Pinkerton e Reed.
Abacate Bacon
Fonte: http://www.frutaselporton.es/apps/wa1/Frutas.html |
Abacate Fuerte
Fonte: http://www.frutaselporton.es/apps/wa1/Frutas.html |
Abacate Hass
Fonte: http://www.frutaselporton.es/apps/wa1/Frutas.html |
Abacate Pinkerton
Fonte: http://www.frutaselporton.es/apps/wa1/Frutas.html |
Abacate
Reed
Fonte: http://www.frutaselporton.es/apps/wa1/Frutas.html |
Avocado /
Hass
Esquerda: abacate brasileiro, de
espécie desconhecida, colhido em via pública; direita, abacate tipo Hass (a
caneta serviu como comparativo de tamanho entre as espécies).
Fonte: arquivo pessoal.
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Nome
científico: Persea gratíssima Gaert.
Origem:
Califórnia.
Como
dissemos anteriormente, se trata de uma subespécie híbrida, proveniente de um
enxerto. Tem formato ovalado e, quando maduro e bom para consumo, a casca do
fruto, que possui textura rugosa, tem coloração marrom escura. A polpa é
bastante densa, sua cor varia do verde claro ao amarelo claro, com sabor mais
concentrado, devido conter menos água em sua composição, assemelhando-se a
cremes amanteigados. O peso médio aproximado é de 85g.
Apesar de
se tratar de uma subespécie, existem mais de 30 variedades desse fruto
espalhados pelo mundo e a produção geralmente inicia após 2 anos do plantio.
É
considerada a fruta mais nutritiva da natureza. É rico em gordura
monoinsaturada, a mesma presente no azeite de oliva, que ajuda a reduzir os
níveis de colesterol no sangue. Curiosidades: o avocado possui 634 mg de
potássio a cada 100 gr, o dobro do abacate convencional, além de conter
vitamina A e E.
No Brasil o cultivo
iniciou há 40 anos atrás, quando o engenheiro agrônomo Paulo Roberto Leite de
Carvalho trouxe as primeiras mudas. A fazenda pioneira no cultivo desse fruto
está localizada no interior de São Paulo, na cidade de Bauru, e produz
atualmente 6 mil toneladas anuais de frutos em seus 500 hectares, para o
consumo interno e externo (90% da produção tem como destino o exterior, tendo
como os europeus seus maiores compradores).
Curiosidades:
- para
saber se o fruto está no ponto para a colheita é feita uma análise onde é
obtida a quantidade de óleo presente no avocado;
- por ser
um fruto sensível, até hoje a colheita é feita de forma manual: um por vez e
com muito cuidado para não “machucá-lo”;
- o trabalho
de empacotamento é geralmente feito por mulheres, por serem mais delicadas e preocupadas
com a estética das caixas;
- possui menor quantidade calórica em relação às outras espécies de
abacate (cerca de 10% a menos) e é considerado atualmente como a fruta mais
nutritiva;
- o avocado possui alta concentração
de vitaminas, minerais, proteínas e fibras, e ainda proporciona versatilidade
na culinária;
- é um
excelente aliado para a saúde, sendo hoje um “queridinho” para aqueles que
praticam a alimentação saudável, pois tem nutrientes benéficos para o coração, retardam
o envelhecimento, previnem cãibras, impotência, equilibram o colesterol e
combatem os radicais livres.
Características
do Avocado
Os
dois tipos de avocado mais conhecidos no mercado são: FUERTE e o HASS, que é o
mais conhecido e utilizado. Eles possuem algumas diferenças entre si:
HASS: tem formato arredondado e sua casca
possui textura áspera. Quando está maduro, externamente apresenta uma coloração
mais escura (próximo ao preto) e é mais macio ao toque.
FUERTE: possui formato pêra, é mais alongado, sua casca tem
coloração verde brilhante e textura lisa.
Por
fim, deixamos aqui um link com dezenas de receitas para serem feitas com
avocado, indo além da tradicional guacamole e de seu consumo in natura acompanhando sanduíches e
sopas: http://www.jaguacy.com.br/site/receitas.php
Considerações finais
Existem
diversas espécies de abacate, mas não podemos afirmar que uma é melhor que a
outra: cada fruta é simplesmente diferente.
No
Brasil consumimos preferencialmente as variedades híbridas oriundas das
espécies Antilhana e Guatemalense, que resultam em frutos grandes, polpas
macias, adocicadas e quantidade mediana de óleo. Já no México os híbridos são o
resultado do cruzamento entre a espécie Mexicana com as outras duas,
dependendo, principalmente, do clima da região onde será o cultivo.
É
fato que o Brasil é o único país o qual consome o abacate preferencialmente de
forma doce: seja
só com açúcar, na forma de creme para a sobremesa ou batido com frutas e
servido na tradicional vitamina. No restante do mundo a guacamole (de origem
mexicana) é o prato mais conhecido: trata-se do avocado amassado juntamente com
pedacinhos de tomate e cebola, alho, limão, coentro, sal e pimenta à gosto.
Aos
mexicanos que vierem ao Brasil: não tenham medo, experimentem nossas espécies
de abacate em forma de vitamina com leite ou puro, com açúcar / leite
condensado e limão! Sei que para vocês é tão estranho como para nós,
brasileiros, ter o avocado como acompanhamento de pratos salgados (sanduíche,
sopa, salada), mas apesar de cada um ter seu paladar diferenciado, não é algo
horrível ou que desagrade a maioria. É fato que gosto não se discute e paladar
cada um tem o seu, mas como conhecedora das duas culturas, afirmo com
conhecimento de causa que vale muito à pena experimentar o abacate à moda
brasileira e ao gosto mexicano.
Referências bibliográficas:
Avocado Source
Axialind
Fruticultura
Hortibrasil
Jaguacy
Avocado Brasil
Mudas
Frutíferas http://mudasdefrutiferas.com.br/index.php?route=product/product&product_id=145&search=abacate+avocado
Portal
G1
Tudo natural para o bem
UOL
Escrito por:
Íris Zatona Magaña, Paulistana, casada com um mexicano, reside na Capital de São Paulo. Graduada em Direito e Ciências Biológicas, possui especialização em Direito Empresarial e Tecnologias Ambientais, e, atualmente atua de forma autônoma como advogada e bióloga. Tem como hobbies e principais interesses: cinema, música, leitura, meio ambiente, gastronomia, viagens e turismo.
1 comentários
Muito completo e interessante, so precisa adicionar quem são os principais produtores de abacate
ResponderExcluirOs dados da FAO mostram que:
A produção mundial de abacate cresceu 19% entre 2006 e 2012, quando chegou a 4 milhões de toneladas.
21 países são os maiores produtores de abacate.
A produção de abacate está muito concentrada no México com 33% do volume, seguida pela Indonésia, República Dominicana, Estados Unidos, Colômbia, Peru, Quênia. Chile, Brasil e Ruanda, nos dez primeiros lugares com 81% da produção.
O comércio internacional cresceu muito - de 2.088 toneladas em 1.961 para 903.016 toneladas em 2010, quando representou 23% da produção mundial. Nos últimos anos o crescimento continua grande – mais do que dobrou entre 2000 e 2010.
14 países exportam abacate e que 10 responderam por 90% do volume de exportação em 2010 – México (39%), Chile (13%), Holanda (9%), Peru (7%), Espanha e África do Sul (6% cada), Israel (4%) e Estados Unidos (3%).
126 países importam abacate, sendo que 10 respondem por 80% do volume e 02 – Estados Unidos com 21% e México com 19%, por 40% do total.
Os Estados Unidos é o maior importador – o seu volume de importação cresceu 3 vezes entre 2000 e 2010 e a sua participação no volume mundial de importação foi de 13 pra 21%.
O México é o maior produtor (33%), o maior exportador (39%)e o segundo maior importador (19%) de abacate do mundo.
A importação de abacate pelo Brasil é muito pequena – 0,14% do total em 2010.
Fuente: HORTIBRASIL "Números do Abacate" 16 de agosto de 2014, publicado em http://www.hortibrasil.org.br/jnw/index.php/novidades/79-geral/1209-numeros-do-abacate-
Saludos.