Nos bastidores de casamentos e carreiras bem sucedidas no exterior.
Esse post é dedicado a
todas as pessoas, homens e mulheres, que tiveram a coragem, o ato de fé de
largar uma carreira, autonomia e independência financeira, para vir a outro
país acompanhar a família.
Talvez a melhor (ou em
teoria a mais segura) forma de ir morar fora é obter uma proposta de trabalho
formal, seja como expatriado - contrato por tempo determinado - ou como local.
Para quem é solteiro, e há vontade de viver essa experiência, é por sua conta e
risco apenas, adaptar-se a nova cultura e fazer um bom trabalho. As
perspectivas, fazendo um bom trabalho e após alguma adaptação, são muito boas.
Esse tipo de profissional é o que as empresas globais precisam, pessoas que se
arriscam, possuem visão e flexibilidade necessária para garantir a estratégia
global do negócio. Todos os executivos que conheci e convivi, e não foram
poucos, nos últimos 10 anos, que se arriscaram e suportaram os primeiros anos,
tiveram carreiras bem-sucedidas, salvo raras exceções.
Agora para aqueles que tem
uma família, o peso é bem maior. Estamos falando de uma pessoa que está
arriscando uma nova carreira, sendo o principal provedor da família, em um
país, cultura e trabalho totalmente novos. A maioria dos profissionais que vem
ao México são homens, que trazem suas esposas e filhos, embora já vemos muitas
mulheres executivas chegando com esposo e filhos, não vou entrar no mérito de
machismo e outras variáveis que fazem com que sejam a minoria, até porque o
post fala para ambos, embora eu apresente a minha versão feminina, que é
baseada na minha experiência e de inúmeras amigas que conheci ao longo dos
anos.
A medida que esse
profissional galga postos e atinge o sucesso, normalmente merecidamente e com
muito esforço, a companheira (ou companheiro) que veio se encarregará de criar
um novo lar. A pessoa que está nos bastidores vai ser aquela que vai montar a
casa, encontrar prestadores de serviços domésticos, resolver problemas com
fornecedores de serviços, se há filhos, é quem vai encontrar escola, adaptar o
idioma, buscar tutores, lidar com as frustrações. É a pessoa que vai ver o esposo
(a) chegar cansado e sobrecarregado com as tensões do novo ambiente e vai
tentar amenizar o ambiente, colocar colchoes. É quem vai lidar com as ausências,
as viagens, vai virar mãe solteira muitas vezes (porque para atingir o sucesso
muito trabalho terá que ser feito, trabalho duro, politica, viagens), e principalmente
vai abdicar de um papel que já possuía, um papel de filha, irmã, amiga, e de
uma carreira, em prol de um sucesso que não lhe será atribuído, mais que
indiretamente faz parte.
Para essas pessoas que vem
de acompanhantes na nova proposta de trabalho e aventura, muitos olhares de
desdém serão lançados, já ouvi muita gente me perguntando se eu não me
entediava de ficar em casa todo o dia sem trabalhar, ou achando que eu tinha
virado dondoca, ah esses tempos de facebook, onde postamos as fotos felizes e ocultamos
as mazelas, porque ninguém merece ficar vendo e ouvindo chororô alheio. Até
viver isso ninguém faz ideia da pressão que existe nos bastidores, na
cumplicidade que se há de formar no casal, pois não havendo compreensão e
reconhecimento de ambas partes, dos difíceis, complementares e ao mesmo tempo antagônicos
papeis que serão desempenhados por cada um, não há maneira de funcionar.
Muitos pensam: mas se ela
trabalhava lá no Brasil, porque não trabalha aqui? Claro que pode e ao cabo de
algum tempo muitas de nós volta a trabalhar. Quando não há filhos ou há uma família
local para oferecer uma rede de apoio, a situação não difere muito de estar ou não no
Brasil, após um tempo de adaptação pode-se buscar, há mais travas no processo
pelas questões de migração, mas com tempo e esforço, se conquista.
Para aqueles que não tem família
local e tem filhos a situação fica um pouco mais complicada. Leva tempo para
criar um espaço físico e emocional adequado. Adaptar a si mesmo não é o mesmo
que adaptar aos filhos. Os privamos de todo um mundo, família, escola, amigos e
devemos criar um novo mundo para eles. Escola, círculo social, segurança, sem
conhecer ninguém, encontrar e criar um vínculo de confiança em empregados domésticos
(é a única rede de apoio que teremos quando chegarmos, a que podemos pagar).
Esse processo leva tempo, nesse meio tempo, o esposo que chegou com gás total, dedica-se
cada vez mais a empresa, viagens, horários diversos (mundo global, único provedor
da família, tem que ralar muito, meu marido fazia reuniões 3 vezes por semana
em horários como 6 da manhã ou 11 da noite, para coincidir agendas de diversos continentes).
Os papeis começam a definir-se cada vez mais e raramente damos por terminado o
processo de adaptação antes de 1 ou 2 anos. Nesse momento nos damos conta que
temos que “casar” com uma empregada maravilhosa, de confiança total, ou se
torna quase impossível conseguir voltar ao mercado de trabalho. México é um
país subdesenvolvido, com graves problemas sociais, leis trabalhistas desumanas
e altos índices de criminalidade, e infelizmente lidera o ranking de sequestros
infantis no mundo. Está fácil encontrar um “bom partido”? A resposta é NÃO. Não
é fácil no Brasil, mas lá temos a avó, tias, melhores amigas, vizinhas de longa
data que “ficam de olho!”, que dão uma mãozinha quando a empregada dá o cano, temos
30 dias de férias que podemos nos revezar nas férias escolares, temos escolas
em período integral.
Aqui nem todas as boas
escolas tem um after scool, e raramente se estende mais que 5 ou 6pm. Vamos combinar
que no mundo corporativo atual, é muito raro conseguir uma empresa que não peça
horas extras, no fechamento, quando vem um cliente especial, reuniões em
diferentes fusos horários, e quando se trata de gerir uma carreira, esses ônus são
comuns. Como dedicar-se a essa carreira e gerir a uma família, sem uma rede de
apoio? Muitos vão dizer: mas os filhos são do pai também, e ele deve apoiar a
mulher nisso. É claro que sim, em um mundo ideal não cabe dúvida disso, e
acreditem, a maioria deles adoraria dividir a pressão de prover a família, mas
naquele momento em que os papeis se definiram, a balança desiquilibrou. O novo
trabalho representa de repente um percentual muito pequeno do orçamento (afinal
estamos recomeçando após um gap) e o trabalho do principal provedor e a
carreira cuidadosamente trabalhados correm um sério risco se o executivo se
negar a ir as reuniões intercontinentais (para poder levar filhos na escola),
ou ir viajar (porque os horários infantis devem ser cumpridos enquanto a mãe
recomeça a carreira). Na verdade, o mundo corporativo moderno, apesar de toda
tecnologia, ainda tem um perfil de exigências elevadas, e nem sempre é por egoísmo
que o principal provedor está impedido de renunciar a parte das 50 ou 60 horas
de trabalho semanais para cuidar dos filhos e sim por extrema necessidade de
manter sua cadeira enquanto existem dezenas de outros dispostos a ocupa-la.
Sempre restarão trabalhos de menor responsabilidade, que podem ser cumpridos de 8 a 5, negócios que
poderão ser abertos, projetos que serão empreendidos, blogs que serão escritos,
mas traçar duas carreiras de sucesso, com filhos, no México (há países de 1
mundo com uma relação muito diferente de trabalho) é
algo que não vemos acontecer com frequência. Com o tempo as crianças crescem e
outros caminhos poderão ser trilhados, há muitas vantagens nesse modelo, ver os
filhos crescerem, estar lá nas horas difíceis, mas o preço pessoal é elevado. É
um lado raramente compreendido, afinal se a família vive bem, os filhos estudam
e estão felizes, parece até pecado reclamar da vida né? Até lembrarmos que, cada
uma de nós é um indivíduo e não um adorno da casa bonita, uma esposa, uma mãe,
abdicamos de nossa independência e autonomia profissional e colhemos frutos
indiretos do sucesso.
Muitas são reconhecidas, outras não, mas o principal
reconhecimento tem que vir de si mesmo, para que a frustração e magoas não
criem raízes. Ou encontrar algum caminho alternativo que realmente nos
preencha. As que conseguem conciliar isso com retorno financeiro são as mais
felizes e realizadas. Espero que cada um de vocês, que veio como coadjuvante de
uma história de sucesso encontre seu caminho pessoal e seja feliz. Porque todos
que trabalharam duro para chegar até aqui merecem esse sentimento de realização.
Escrito por:
Fabiana
Giannotti, brasileira radicada no México desde 2008.. Blogueira, Escritora,
Fotografa, Assessora a expatriados. Me considero afortunada por viver no
México, aprender a respeitar e conhecer essa bela cultura. Conhecer,
adaptar-se, aprender, mudar, acostumar, respeitar, amar o diferente são algumas
coisas que descobri nos últimos anos, além do fato que, por mais perfeito que
seja o plano tudo pode mudar de repente...
E-book, livro digital –
Venda direta: fabiana.giannotti@yahoo.com.br:
Serviço Personalizado de Assessoria para mudança ao México
Se gostou
desse texto, comparta com seus amigos, conheça nossa fanpage e faça parte dessa
enorme familia brasileira no Mexico!
Tags:
Expatriados
Familia Expatriada
Mulheres Expatriadas
Vida de estrangeiro
Vivendo fora do Brasil
2 comentários
Olá, Fabiana!
ResponderExcluirQue texto claro! Acho que detalhou todas as fases pelas quais uma expatriada passa. Sim, somos nós que carregamos o piano, que lidamos com os bastidores. Pesquisas indicam que, de cada 10 profissionais expatriados, 8 são homens. De cada 10 expatriações que não dão certo, 7 formam porque a família não se adaptou. Então dá pra ignorar a importância do papel da mulher nesse processo?! Percebo que algumas empresas se empenham em promover uma adaptação cultural, mas, avalio que, na maioria dos casos, a não adaptação é com relação à nova vida da mulher: ao fato de não termos mais carreira, rede de apoio, família por perto...isso é muuuito difícil.
Passei por isso também, mas consegui fazer minha limonada. Sou muito grata à experiência de ter vivido em outro país.Do jornalismo ao coaching voltado à mulheres expatriadas foi um longo caminho, mas foi buscando me entender nesse novo cenário que encontrei minha inspiração: trabalhar com mulheres que deixam sua vida de lado em nome do sucesso de outra pessoa. Parabéns pelo texto e convido vocês a saberem mais sobre minhas experiências em www.expatriadas.com.br e sobre meu trabalho em www.leveorganizacao.com.br
Beijos grande!!
Oi Carmem, obrigada pelo seu comentário, olhei suas páginas e vejo que voces tem uma vivencia semelhante a nossa, parabéns pelo seu trabalho e organizaçao. Se quiser podemos conversar e trocar textos e experiencias em ambos blogs. Oferecemos serviços de apoio ao expatriado no México, se tiver interesse em alguma parceria nesse país.
ResponderExcluir