Sobre ser Negra no México - por Letícia.
Em uma das interações que fiz na nossa FANPAGE ( CLICA! ), conversei com a Leticia. Isso é uma coisa super bacana que o blog e meus canais me oferecem, esse contato direto com todo tipo de gente pelo mundo. Achei a história dela bem bacana e ofereci um espaço no Blog para que ela relatasse algo que eu não poderia fazer de uma maneira tão sincera.
Do que eu estou falando? De ser NEGRA no México.
Foto: Sipse |
Antes de ler o relato da Letícia, achei legal investigar alguns dados pra que vocês leitores conseguissem rascunhar na mente, do que estamos falando.
É muito, muito raro encontrar negros, descendentes africanos no México.
Para nós brasileiros que estamos acostumados em ser o país com maior número de população negra fora da África , pode parecer exagero da minha parte falar que posso contar no dedo quantas vezes vi negros em San Luís Potosí.
A população mexicana está composta por vários grupos étnicos, sendo a grande maioria de mestiços (75%), seguidos de europeus (15- 20%) e indígenas (12%).
1.4 milhões de pessoas no México se descrevem como negros, afrodescendentes, ou afromexicanos, o que significa 1.2% da população total. A maioria vive no estado de Guerrero, Oaxaca e Veracruz. Há muitos que se auto denominam indígenas, o que aumentaria um pouco os indíces.
(Índices tirados da ansolatina.com e inegi.mx)
Em seguida, segue o texto da Leticia:
Antes de
vir para Villahermosa, capital de Tabasco, recorri ao blog da Melissa e li
diversas vezes quão difícil é a vida de expatriado. No fundinho da minha alma,
tinha esperança de que comigo pudesse ser diferente. Mas, por que logo eu ser a
"diferentona", não é mesmo?
Sou negra,
cabelo “black power” e brasileira! Pense comigo: estas são as características
de uma mulata, passista de escola de samba do carnaval carioca (nada contra,
por favor, elas são lindas!). Quando descobrem que sou do Rio de Janeiro (do
interior), então, tem-se os quesitos perfeitos para crer que estou sexualmente
disponível e a qualquer momento me verão seminua, porque isso é o que a mídia
brasileira vende para os “gringos”.
Aqui, em
Villahermosa, quando as pessoas me encontram na rua, fazem cara de espanto (é
exatamente isso, não encontrei outra palavra para expressar suas reações).
Inicialmente, eu acreditava que o comportamento delas para comigo era devido as
características citadas acima, mas aos poucos fui percebendo que muitos me
olham com estranheza não porque pensam no carnaval ou são preconceituosos, mas
porque aqui em Tabasco, como dizem alguns amigos chocos (apelido dos
tabasquenos) não há ninguém como eu, pelo menos nunca vi negros por aqui.
Algumas
mulheres me olham torto, outros pedem para tocar meu cabelo para verificar se é
de verdade e TODOS, absolutamente todos me olham curiosos.
Tabasco é um
estado extremamente quente, em Villahermosa faz 45 graus na sombra, os
termômetros, aqui, chegam com facilidade aos 50 graus nesta época do ano.
Quando cheguei, há quase três meses, estranhei ver as mulheres usando calças
compridas, blusas quentes e não entendia o porquê. Soube, por uma moradora da
cidade, que a maior parte dos homens
daqui é culturalmente machista e acredita ter direito de ser inconveniente com
uma mulher por fazer uso de uma roupa um pouco mais "curta".
Então, se
saio sozinha, é sempre de calça comprida (que calor, meu Deus!) . Vestidos
fresquinhos, blusas leves e bermudas, só quando saio com meu esposo. Lembremos
que negra, brasileira e de short é prato cheio para os maldosos, rsrsrs.
É difícil
adotar esse comportamento? É difícil perceber olhares curiosos sobre você, como
se fosse um ET? Sim, muuuito!
Já é
difícil ser negra no Brasil cuja população é na sua grande maioria negra e
pobre, imagina num lugar onde só viram negros pela tele ou películas. Para mim,
está sendo extremamente difícil. Por vezes, não quero sair de casa para evitar
a fadiga mas, não posso nem devo ser prisioneira do que sou, nem de como sou. O
que me resta é ADAPTAÇÃO , afinal a estranha no ninho sou eu.
Escrito por:
Letícia
Barcelos, casada, brasileira e campista cabrunco, mão de três filhas de quatro
patas, muito amada, professora de Literatura e gramática da Língua Portuguesa.
Adoro ler,
viajar e assistir filmes. Considero-me privilegiada por viver no México e
assim, perceber que lidar com as diferenças é importante e extremamente
difícil.
e-mail:
leticiabarceloshaddad@gmail.com
instagram:
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facebook
/leticia.barceloshaddad
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2 comentários
Que coisa, meu Deus... quando a cor da pele vai deixar de ser uma questão, meu Deus????
ResponderExcluirFui ao Chile no ano passado e uma pessoa brasileira que vive a anos por lá (que disse odiar o Brasil!) disse que né mais que extremamente raro existirem negros chilenos, que é muito difícil mesmo e que os negros que vemos nas ruas do país, ou são do Haiti (por conta do refúgio) ou são turistas e que pra eles, é extremamente estranho.
E agora esses "rótulos" (vamos dizer assim) só estão aumentando... agora é contra religião, não só a cor. Só piora, meu Deus, só piora...
Dizer que a grande maioria da população brasileira é negra, me parece um tanto quanto um exagero, ainda que muitos estrangeiros acreditem nisso. Olha, tirando alguns estados como Bahia, Rio de Janeiro e Maranhão,onde de fato a grande maioria da população é negra ou mulata, eu diria que pessoas negras e mulatas giram em torno de uns 30% da população do país na maioria dos outros estados. E em alguns estados do nordeste como o Ceará, eu diria que nem 10% da população é negra. O mesmo eu posso dizer de Santa Catarina, Paraná e talvez Amazonas. Inclusive eu conheci uma enfermeira cearense que eu veio morar no aqui no Rio e ela me disse que a princípio ela sentia um certo "estranhamento" quando era recém chegada, pois lá no Ceará, segundo ela, quase não se vê muitas pessoas negras, diferente do Rio de Janeiro, onde eu diria que mais 60% ou 70% da população é negra ou mulata. Mas no caso, a entrevistada do post, está transportando as impressões subjetivas dela, baseados no estado onde ela nasceu e que é onde eu vivo, Rio de Janeiro, onde de fato, a GRANDE MAIORIA da população é negra e pobre. Um colega militar que viveu numa cidade do interior do Rio Grande do Sul, também relatava impressões semelhantes a dela e olha que ele era brancos, mas só pelo fato de ser carioca, ainda que bem caucasiano na aparência, ele sofria preconceito das pessoas de lá. Disse que com negros e nordestinos, era ainda pior, pois quase não havia lá.
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